DA IMPORTÂNCIA DO INVESTIMENTO NA PROTEÇÃO DAS MARCAS DOS CLUBES DE FUTEBOL
Não é de hoje que se reconhece que o futebol profissional representa uma indústria bilionária, movimentando a economia de diversos países.
Em 2000, a Fundação Getúlio Vargas estimou que essa indústria movimenta cerca de 250 bilhões de dólares anuais. De acordo com dados mais recentes da CBF, o futebol brasileiro movimenta 52,9 bilhões de reais na cadeia produtiva, o que representou quase 1% do PIB brasileiro em 2018.
Em que pese os números impressionantes acima mencionados, tem-se que o futebol brasileiro ainda não acompanha os clubes europeus vez que não explora todo o seu potencial monetário. Tal fato se deve, principalmente, pela diferença na mentalidade quanto à estruturação e organização da atividade, assim como da gestão dos clubes e dos seus ativos imateriais.
Os clubes europeus, ao contrário da maioria dos clubes brasileiros, há décadas tratam a atividade do futebol profissional e a gestão dos clubes como um grande negócio, profissionalizando a gestão do clube. Tal profissionalização da gestão inclui um importante fator: a preocupação e o investimento nos ativos imateriais do clube, nestes incluídos as marcas e demais sinais distintivos dos clubes, tais como mascotes, brasões, entre outros.
Tais ativos, notadamente a marca, são extremamente importantes para a gestão e continuidade do desenvolvimento da própria atividade principal, vez que representam uma importante fonte de receita para os clubes e contribuem para a sua estabilidade financeira.
Isso porque as marcas e demais sinais distintivos interagem e despertam os mais diversos sentimentos junto aos seus torcedores e auxiliam a estreitar a relação entre o clube e o torcedor. Nesse sentido, investir na proteção das marcas do clube, as quais podem ser monetizadas de modo a serem utilizadas nos mais diversos produtos, podendo inclusive serem objeto de licenciamento e assim, pagamento de royalties, geram evidentemente uma valiosa fonte de receita dos clubes, demonstrando, portanto, que o investimento nas marcas e demais ativos imateriais dos clubes trata-se de uma atividade extremamente rentável e que merece ser melhor observada pelos clubes brasileiros.
Tal cenário, entretanto, parece estar se alterando nos últimos anos, vez que diversos clubes brasileiros vêm buscando cada vez mais implementar a profissionalização da sua gestão, fazendo surgir inclusive a denominação “clube-empresa”, e com isso buscam também a proteção de seus bens imateriais.
Um exemplo muito bem sucedido de tal movimento no Brasil é o caso do Flamengo, pioneiro no Brasil a profissionalizar e reestruturar a sua gestão, assim como a investir de forma mais contundente em suas marcas, tendo se tornado em 2019 o primeiro clube brasileiro a obter o status de marca de alto renome, o que lhe garante o uso exclusivo – e possibilidade de licenciamento a terceiros com o recebimento de royalties - da valiosa marca FLAMENGO, em todos os âmbitos de atividade.
O investimento na proteção de sua marca, que possibilita a exploração econômica desta, aliada à excelente campanha do clube no ano de 2019, com certeza resultou no crescimento de receita do clube. Neste tocante, menciona-se que a marca FLAMENGO é inclusive considerada a mais valiosa marca de um clube de futebol no Brasil, tendo sido ao final de 2019 estimada em R$ 2,160 bilhões, seguida pelo CORINTHIANS e PALMEIRAS, ambas as marcas avaliadas em R$ 1,7 bilhão.
Ainda com relação à preocupação dos clubes com a proteção de suas marcas, pode-se citar ainda outro clube muito tradicional e querido no futebol brasileiro, que goza de prestígio e fama junto ao público, o América Football Club. O clube recentemente comemorou a obtenção dos registros junto ao INPI da marca AMERICA FOOTBALL CLUB, assim como do brasão AFC. A obtenção destes registros permite a sua exploração econômica em produtos que ostentem a querida marca do clube, o que certamente refletirá no angariamento de receita.
Desse modo, verifica-se que os clubes brasileiros, atualmente não mais orientados somente pela busca de títulos, mas sim na maximização da geração de receita, que, evidentemente possibilita a estabilização financeira e a continuidade do investimento na atividade fim do clube, muito tem a se beneficiar com o investimento na proteção de suas marcas e demais ativos imateriais, o que, como mencionado, torna o futebol uma atividade cada vez mais eficiente e lucrativa.
Importante ressaltar que além de se buscar a proteção da marca no seu território, o registro das principais marcas do clube em outros países também pode se mostrar altamente rentável vez que possibilita que o clube também explore essas marcas com a comercialização de camisas, bonés, bolas e artigos esportivos em geral nesses países.
Nesse tocante, menciona-se que uma atividade bastante explorada pelos principais clubes europeus internacionalmente é a do licenciamento de suas marcas para escolinhas de futebol em outros países. No Brasil, a “Barça Academy”, do Barcelona; a “PSG Academy”, do Paris Saint Germain, e a “Inter Academy” do Inter de Milão, são alguns exemplos.
Referências
AIDAR, Antonio. Carlos. Kfouri.; LEONCINI, Marvio. Pereira.; OLIVEIRA, João. José. A nova gestão do futebol. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000.
LEONCINI, Marvio Pereira; SILVA, Márcia Terra da. Entendendo o futebol como um negócio: um estudo exploratório. Gest. Prod., São Carlos , v. 12, n. 1, p. 11-23, Apr. 2005 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-530X2005000100003&lng=en&nrm=iso>. access on 02 Dec. 2020. https://doi.org/10.1590/S0104-530X2005000100003.
Impacto do Futebol Brasileiro elaborado em conjunto pela CBF e EY com o apoio de Cesar Grafietti para o Pilar Financeiro. Disponível em https://conteudo.cbf.com.br/cdn/201912/20191213172843_346.pdf.
Flamengo, Corinthians e Palmeiras no top 3: veja os clubes com marca mais valiosa. Redação Goal. Publicado em 27 de dezembro de 2019. Disponível em https://www.goal.com/br/not%C3%ADcias/flamengo-corinthians-e-palmeiras-no-top-3-veja-os-clubes-com/e9a3w86s4n491qrjm74bhcdnz.
América ganha ação judicial e se torna 'dono' de nome e do símbolo 'AFC'. Jornal Extra, publicado em 28 de outubro de 2020. Disponível em https://extra.globo.com/esporte/america-ganha-acao-judicial-se-torna-dono-de-nome-do-simbolo-afc-24717146.html
Fonte: Estadão: - https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/da-importancia-do-investimento-na-protecao-das-marcas-dos-clubes-de-futebol/